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Poemas Sáficos de Judith Teixeira

  • Foto do escritor: Arquivo Sáfico
    Arquivo Sáfico
  • 4 de ago. de 2018
  • 2 min de leitura

Atualizado: 13 de ago.


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Os poemas abaixo foram retirados da Obra Decadência, de 1923, e constam, também, nas coletâneas "Poesia e Prosa" (2015) e "Judith Teixeira - Obras Completas - Lírica" (2016/2017).



Lista:


A Estátua 

Perfis Decadentes 

A Minha Amante 


 

 

A Estátua


O teu corpo branco e esguio

prendeu todo o meu sentido…

Sonho que pela noite, altas horas,

aqueces o mármore frio

do alvo peito entumecido…


 E quantas vezes pela escuridão,

a arder na febre dum delírio,

os olhos roxos como um lírio,

venho espreitar os gestos que eu sonhei…


…………………………………………..


- Sinto os rumores duma convulsão,

a confessar tudo que eu cismei!


………………………………………….


Ó Vénus sensual!

Pecado mortal

do meu pensamento!

Tens nos seios de bicos acerados,

num tormento,

a singular razão dos meus cuidados!

 

 


Perfis Decadentes


Através dos vitrais

ia a luz a espreguiçar-se

em listas faiscantes,

sob as sedas orientais

de cores luxuriantes!


 Sons ritmados dolentes,

num sensualismo intenso,

vibram misticismos decadentes

por entre nuvens de incenso.


Longos, esguios, estáticos,

entre as ondas vermelhas do cetim,

dois corpos esculpidos em marfim

soergueram-se nostálgicos,

sonâmbulos e enigmáticos…


Os seus perfis esfíngicos,

e cálidos

estremeceram

na ânsia duma beleza pressentida,

dolorosamente pálidos!


Fitaram-se as bocas sensuais!

Os corpos subtilizados,

femininos,

entre mil cintilações

irreais,

enlaçaram-se

nos braços longos e finos!

..............................................................

E morderam-se as bocas abrasadas,

em contorções de fúria, ensanguentadas!

...............................................................

Foi um beijo doloroso,

a estrebuchar agonias,

nevrótico ansioso,

em estranhas epilepsias!

...............................................................

Sedas esgarçadas,

dispersão de sons,

arco-íris de rendas

irisando tons...

...............................................................

E ficou no ar

a vibrar

a estertorar,

incandescido,

um grito dolorido.


  


A Minha Amante


"............................... a dor

só lhe perco o som e a cor

em orgias de morfina!"




Dizem que eu tenho amores contigo!

Deixa-os dizer!...

Eles sabem lá o que há de sublime,

Nos meus sonhos de prazer...


De madrugada, logo ao despertar,

Há quem me tenha ouvido gritar

Pelo teu nome...


Dizem - e eu não protesto -

Que seja qual o for o meu aspeto

Tu estás na minha fisionomia

E no meu gesto!


Dizem que eu me embriago toda em cores

Para te esquecer...

E que de noite pelos corredores

Quando vou passando para te ir buscar;

Levo risos de louca, no olhar!


Não entendem dos meus amores contigo -

Não entendem deste luar de beijos...

- Há quem lhes chame a tara perversa,

Dum ser destrambelhado e sensual!

Chamam-te o génio do mal -

O meu castigo...

E eu em sombras alheio-me dispersa...


E ninguém sabe que é de ti que eu vivo...

Que és tu que doiras ainda,

O meu castelo em ruínas...

Que fazes da hora má, a hora linda

Dos meus sonhos voluptuosos -

Não faltas aos meus apelos dolorosos...

- Adormenta esta dor que me domina!




- Judith Teixeira

In Decadência, 1923

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©2018 por Arquivo Sáfico.

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